Offline
Desemprego em Minas deixa quase 1,5 milhão de excluídos
14/06/2021 19:36 em Economia

 

Festejada pelo governo, a reação da economia brasileira de janeiro a março passou distante da batalha de milhares de trabalhadores afetados pelo agravamento da crise do emprego, neste ano, no país e em Minas Gerais. Sem oportunidade ou nem sequer a esperança de encontrar vaga, 1,482 milhão de pessoas no estado vivem rotina de exclusão, representada pela maior taxa de desemprego em nove anos, de 13,8% medidos no primeiro trimestre de 2021 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No Brasil, são 14,8 milhões de pessoas que não estão trabalhando, retratadas numa taxa de desocupação também recorde, de 14,7%.

 

 

Em toda a série histórica de dados do instituto, que acompanha o comportamento do mercado de trabalho desde 2012, o drama em Minas nesse começo de ano conturbado pela falta de controle da pandemia de COVID-19 e a lenta vacinação só se compara ao início de 2017, período ainda influenciado pela recessão da qual o país estava saindo naquela época. No primeiro trimestre daquele ano, o nível de ocupação havia alcançado 13,7% e sacrificava 1,491 milhão.

 

 

De janeiro a março último, o desemprego no estado teve expressivo crescimento em relação às taxas de 12,2% de outubro a dezembro último – trimestre que parecia indicar uma recuperação de vagas, agora descartada – e de 11,5% no primeiro trimestre de 2020. Além das restrições que a doença respiratória impôs à economia, a deterioração do emprego reflete o baixo fôlego do setor de prestação de serviços e da indústria no estado, como observa o analista Alexandre Veloso, da regional do IBGE em Minas, ao analisar os resultados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua.

 

 

“Esse dado que saiu agora (os resultados da Pnad Contínua no primeiro trimestre foram divulgados no último dia 27) mostra que a taxa aumentou 2,3% do início do ano passado para o início deste ano. O que notamos são as atividades, como a área de serviço que continua sendo a mais afetada, que estão bem abaixo do nível do período pré-pandemia”, disse. De janeiro a março, havia 186 mil desempregados a mais no estado que entre outubro e dezembro de 2020. Frente ao primeiro trimestre do ano passado, o aumento equivale a 200 mil pessoas.

 

 

O corte de empregos deste ano alcançou 152 mil postos nos serviços de alojamento e alimentação frente aos meses de janeiro a março de 2020, 127 mil oportunidades no comércio e no setor de reparação de veículos e 124 mil vagas na indústria. Para o auxiliar de cozinha Samuel Alves Ramos, de 29 anos, que perdeu o emprego no ano passado, o recrudescimento na geração de vagas tornou ainda mais difícil uma recolocação.

 

 

Com a escassez de vagas em Novo Cruzeiro, no Vale do Jequitinhonha, onde ele nasceu, Samuel partiu para São Paulo. Ele trabalhava num restaurante em Piracicaba, quando os efeitos da crise sanitária sobre as vendas sacrificaram o quadro de pessoal da empresa. “Pra mim foi um baque, uma coisa que eu realmente não estava esperando. Com a perda do emprego, fiquei sem ter como sobreviver longe de casa”, afirma.

 

 

Outros 137 mil empregos foram eliminados em Minas nos outros ramos de empresas do setor de serviços. Para Alexandre Veloso, o mercado de trabalho que chegou a apresentar uma leve melhora voltou a piorar num cenário de recrudescimento das contaminações e mortes provocadas pelo coronavírus.

 

 

“A gente teve no último trimestre do ano passado uma recuperação relativa do mercado de trabalho. A partir de março do ano passado houve uma queda muito significativa, tanto em Minas quanto no Brasil e foi o reflexo da pandemia. Quando a situação sanitária ficou um pouquinho melhor, o mercado de trabalho havia conseguido se recuperar um pouco”, afirmou.

 

 

Desempregado desde que os primeiros casos de COVID-19 surgiram no Brasil, Pablo Henrique Nascimento, de 28 anos, convive com o temor de não conseguir uma recolocação no mercado de trabalho, diante das incertezas que cercam a economia. Ele trabalhou 5 anos e 3 meses em uma empresa que fabrica peças de tratores. Assim que a crise sanitária se instalou, foi demitido.

 

 

“Fui pego de surpresa. Nunca esperamos que isso aconteça com a gente. Fiquei bastante tempo lá na empresa, minha carreira foi crescendo, mas fui demitido simplesmente porque a pandemia chegou. Entendo a crise, mas é muito difícil. Estou procurando emprego há mais de um ano”, lamenta Pablo Nascimento. Ele conta que, quando surgem vagas, são as muitas exigências que dificultam as chances dele diante da concorrência. “Além de ser difícil encontrar emprego, quando acho eles pedem muita coisa. Assim, tudo fica mais fechado e o medo aumenta. Não consigo ficar parado.”

 

 

Registro

 

 

Outro reflexo preocupante da crise e desfavorável tanto para o trabalhador quanto para um país que busca crescimento sustentado é o avanço do emprego sem registro. Em Minas, a taxa de informalidade medida pelo IBGE atingiu 38,4%, o que representa cerca de 3 milhões de trabalhadores que não têm carteira assinada ou CNPJ. A taxa é maior que as de seis estados, incluindo São Paulo, Rio de Janeiro, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Paraná e Mato Grosso do Sul.

 

 

“A taxa de informalidade está um pouco acima da média. O que a gente pode notar nesse momento de crise é diferente de outros momentos em que a economia funciona de uma forma um pouco mais normalizada. Atualmente, é a única oportunidade de emprego que muitos têm. É o que está sobrando”, comentou Alexandre Veloso, do IBGE. No Brasil, os 34 milhões de trabalhadores informais respondem por 39,6% do total de empregos.

 

 

Fonte: www.em.com.br

 

COMENTÁRIOS